sexta-feira, 13 de março de 2009

Sobre a especialização

Em São Paulo, e acredito que por tabela no Brasil, há uma forte tendência de especialização na pintura. Não se aprende os fundamentos conceituais e técnicos gerais da pintura e vigora uma forte resistência ao treinamento do desenho, como se fosse também uma espécie de conhecimento específico (ao invés de encarado como base de tudo). Nos cursos de pintura, pintores-professores não somente ensinam a fazer coisas como temas isolados, mas também professam que "aqueles que pintam de tudo, pintam tudo mais ou menos." O desenho é o tipo do aprendizado descartável visto que hoje existe xerox ampliado, sistema de quadriculado ou mesmo retroprojetor. Mas esse é um tema que merece um comentário à parte.
A especialização na arte, como ponto de partida e como premissa metodológica (que acaba por fim assumindo um caráter ideológico), representa a instituição da visão e do conhecimento fragmentados. Novamente, tive outra experiência no shopping que demarca bem essa concepção: havia um homem que estava começando a pintar cavalos por encomenda. Como via que também pintava o mesmo tema, aconselhou-me que deveria eleger uma raça. Segundo ele, se escolhesse cavalo árabe, não poderia ou deveria pintar mangalarga, por exemplo. Indaguei por quê e a resposta foi de que o especialista, para fazer bem, deve fazer somente uma coisa. Levando adiante esse raciocínio, a tendência defendida é a fragmentação do fragmento.
Na época, achei muito estranho esse argumento, pois contradizia o que meu primeiro professor ensinava, além de perder o sentido se comparado ao que se desenvolvia, como currículo, nos ateliês e academias européias.
Qualquer resquício de dúvida (pois o que mais ouvia de outros pintores e donos de galeria era a crítica à abrangência temática) foi sanado com essa carta de John Singer Sargent dirigida a um aprendiz: "Você diz que está estudando para se tornar um pintor de retrato e eu penso que estaria cometendo um grande erro se só mantivesse isso em vista durante a fase de aprendizado, já que objetivo do estudante deveria ser adquirir controle suficiente dos seus materiais, não importa a natureza do que se apresente diante de si. Os convencionalismos do retrato só são toleráveis num bom pintor. Se ele for apenas um bom pintor de retratos, ele não é ninguém. Tente se tornar um pintor primeiro e então aplique seu conhecimento a um campo específico. Mas não comece aprendendo o que é requerido para esse campo ou você se tornará um maneirista."
Há uma frase de um professor de Metodologia Teórica na época da faculdade que completa a anterior: "O especialista é aquele que sabe cada vez mais sobre menos até o ponto em que sabe tudo sobre nada."

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