segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Investigação sobre a luz para o quadro "Letárgico II"

A partir daquele episódio interessante da luminosidade que recaiu sobre o cavalete, atingindo o estudo "Letárgico II" (http://mauriciotakiguthi.blogspot.com.br/2013/01/estudo-para-letargico-ii.html), resolvi fazer umas experiências, tanto para testar a plausibilidade daquela incidência de luz como também compreender o seu comportamento no espaço tridimensional, principalmente sobre a figura principal do Letárgico.
 

 Foto do desenho com a incidência acidental da luz no meu ateliê
 
 
Para poder aprofundar a análise do comportamento da luz, usei o mesmo boneco que confeccionei para o quadro Télamon, "vestido" com um pedaço de pano escuro, dentro da "caixa de sombra" (que utilizo bastante nas aulas quando quero controlar a iluminação sobre o modelo). O que deu para constatar é que, apesar de serem muito próximos os efeitos tanto no desenho quanto na caixa de sombra, existem nuances sutis que podem fazer diferença na credibilidade da representação: no modelo real, a borda da sombra projetada é dura, enquanto na figura é suave.
Como sempre, pela minha experiência, esses tipos de acontecimento inusitado, recorrentes no cotidiano artístico, principalmente de um pintor realista, são fontes de insights que tanto alimentam, instigam e atraem a busca do aprofundamento e ampliação da visão, cujos resultados podem ser chamados de entendimento.
E o entendimento, para se configurar-se como um exercício permanente de educação do olhar, exige como premissas duas condições: necessidade de continuamente levantar questões que se impõem à nossa frente e capacidade de observar conceitual e tecnicamente a realidade visível.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Leitura linear e pictórica da essência visual de crânios

Continuando o propósito de explorar a essência visual de vários objetos, resolvi retomar a representação de crânios como tema. A tradução da imagem se deu a partir da escolha de um "recorte teórico", que guia a ação técnica, implementada por sensação. A concepção visual consistiu, dentro da abordagem pictórica, em construir a imagem pelo sistema de sobreposição de massas sob orientação de formas bidimensionais (shape), em chave alta.

Questão: Resolver o problema de tradução visual do objeto sob a incidência de luz frontal, que deixava o modelo praticamente “chapado” (com uma zona contínua de valor médio). O mais previsível seria recorrer aos detalhes ou imitar a textura, de natureza linear, para sustentar a leitura e lhe conferir força visual.
 

A estrutura foi organizada tendo em mente massas que se comunicam ou se contrapõem, num movimento tonal independente.


A "quebra de superfície", fator que ajuda na ilusão de matéria e textura, foi gerada pela manipulação técnica de manchas, linhas orgânicas e hachuras.

 


Algo importante a ser constatado, no resultado do trabalho orientado pela concepção pictórica, é que somente a aparência é apreendida, fator que cria a impressão visual de caráter indeterminado, imaterial e incorpóreo. Parafraseando Wolfflin, as massas claras e escuras ganham vida própria, emancipando-se num jogo autônomo que gera movimento tonal independente, sem que a objetividade seja eliminada. Eis o desafio.
 



O contraponto conceitual da abordagem pictórica anterior pode ser exemplificado por este desenho, executado em 2009. Na época, recorri ao modo linear (também chamado de táctil), de caráter mais objetivo, descritivo e literal, para fazer um estudo anatômico do crânio concebido como forma sólida.
Apreender e expressar as coisas como elas são, em suas  condições fixas e palpáveis, possui uma forte afinidade com o que se sabe. Por esse motivo, o trabalho de observação no estilo pictórico ou visual, o que se sabe tem uma posição secundária, pois está a serviço do que se vê. Seu uso fica mais restrito àquelas situações nas quais aparecem “lacunas visuais” e não há referência visível no modelo por algum motivo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Mais gestuais de mãos...

Algo que se pode fazer para manter a percepção em dia é retomar temas que não praticamos há um certo tempo. O aspecto positivo dessa atividade é poder rever ou perceber algo diferente da última vez em que se treinou e dessa forma levar adiante o processo de aperfeiçoamento.
 
 
 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ordenamento pelo sistema de formas bidimensionais

Realizei este estudo com o intuito de montar a base mais simples e concisa possíveis elaborando o ordenamento pelo sistema de formas bidimensionais de valor ("shape"), em oposição ao sistema de modelado plástico, típico do estilo linear ("form").  O agrupamento e contraponto das grandes massas foram arbitrariamente escolhidos pela eliminação das pequenas variações, buscando o encaminhamento da leitura das massas tanto pelo valor como pela orientação do movimento.
A curiosidade fica por conta da inexistência em português das diferenças entre as palavras em inglês "shape" (forma bidimensional) e "form" (forma tridimensional), o que dificulta a compreensão e o pensamento técnico sem um conceito mais preciso. 
 
Pastel preto, branco e cinzas

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Essência visual 2

O lado mais intrigante e atraente na natureza pictórica do gestual é o fato de permitir que não se recorra insistentemente à cópia ou mesmo aos clichês visuais (modos de imitar repetidos coletivamente à exaustão), por uma característica apontada por Wolfflin em Conceitos Fundamentais da História da Arte: de que representação e objeto não coincidem, diferentemente do estilo linear, mais objetivo.
Ao descolar a imagem de seu objeto, abre-se espaço para respostas imprevisíveis por captar o essencial por sensação. E o gestual pode, em última instância, corresponder à resposta mais subjetiva e abstrata possível, desde que referenciada numa concepção visual.
 
Neste desenho da palmeira que fiz no sítio, resolvi explorar mais as hachuras para gerar textura, representar a incidência de luz,  "quebra" de superfície e sugerir as folhas de modo mais genérico.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Essência visual

Comecei a fazer estudos em grafite para compreender a essência visual (conjunto de qualidades visuais que dão identidade ao objeto) de árvores, não tanto para meramente representa-las, mas para investigar e explorar as possibilidades de manipular tecnicamente os elementos constitutivos da imagem, como borda, textura, valor, hachuras, linhas orgânicas, entre outros. Entender tecnicamente a essência visual das coisas expande a visão, incrementa o repertório de respostas e, por esse mesmo motivo, permite manipular o desenho sem recorrer a respostas fixas, previsíveis e mecânicas.
 
Grafite sobre papel