terça-feira, 10 de março de 2009

Determinismo Artístico

Era uma vez, um pintor, em início de carreira, teve a brilhante ideia de esboçar um cavalo a óleo, numa feira de antiguidades de um Shopping, na esperança de vendê-lo para pagar as contas. Muito concentrado e nervoso, prestava muita atenção ao enquadramento do animal na tela e às suas proporções para não estragá-lo ou fazer qualquer besteira na frente do público presente (afinal, continua sendo embaraçoso para qualquer pintor dar aquela "escorregada". E esse é um dos motivos pelos quais muitos pintores já levam quadros, que necessitam de desenho, já esboçados).
De repente, uma mulher que o observava em silêncio deu um grito no seu ouvido: "Para, Para!! Chega!!! Mais do que isso vira foto!
Dei um pulo na cadeira de susto. Sinceramente, faltava muito para que inclusive parecesse um cavalo, tão crus que estavam os traços e massas iniciais do esboço.
"Olha, eu sei do que estou falando, faço artes plásticas e estou me formando agora na faculdade. Você pinta assim agora, mas quando evoluir, vai descobrir que o que faz é só uma fase. Isso já foi feito no passado e existe uma coisa chamada câmera fotográfica!" Tradução: Além de mal informado em relação à existência de instrumentos de captação de imagem, minha abordagem (no caso, realista) pode ser considerada como um “mal passageiro”, um apego teimoso ao passado, que não passou pela "atualização" ou “evolução” artística à semelhança da evolução biológica.
O que vejo, treze anos depois, refletindo sobre o assunto, é que esse vaticínio próprio do discurso oficial, acadêmico, da pós-modernidade (muito cultivado nas principais instituições artísticas como faculdades, escolas de arte, ateliês e espaços culturais), orientado pelo "esteticamente" correto, faz parte do repertório obrigatório daqueles que tem necessidade vital e desesperada de mostrarem-se “inteligentes” e "antenados".
Apesar de transformada em monopólio da verdade, essa concepção (que confunde representação tradicional com conservadorismo), contudo, deixa de levar em conta uma condição simples, mas fundamental, dentro da Arte chamada liberdade de escolha. Graças ao desejo, busca do conhecimento, curiosidade e exercício da dúvida, não aceitei a atenciosa prestação de desserviço.

5 comentários:

  1. Vc não vai falar de uma mulher q passou por vc, parou, deu 3 passos p trás, ficou boquiaberta, gritou VITO VITO vem ver! te perguntou "vc pinta cães?" "tem um espaço....." "quero um quadro p o juiz..." "um p mim..." "não, dois..." "deixa ver seu book"... bem vc conhece o resto. Ai, nada como uma noite (hoje) sem TV, perdida no meio do mato (na fazenda) vendo seu blog graças ao rabicho (o tal do 3G). Vc tinha uns 20/21 anos, eu? já passava dos 40 e tantos. Faz um tempinho, hein? Vc lutando pela sua arte e eu pelos foxs paulistinhas. Parece que vencemos. Baci.

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  2. É, Marina, vou sim: você foi a grande culpada por eu ter entrado no "mundo cão" (brincadeira), aos 24 anos mais ou menos. Essa fase inicial de carreira, do shopping e das exposições, não me dá muitas saudades mas posso dizer que aprendi muito e adquiri muita experiência de vida. Graças a você e à dona Celma também, pude me enveredar pelos caminhos da arte, caso contrário, provavelmente seria hoje funcionário público (nada contra o funcionalismo, mas essa carreira não tem nada a ver comigo).

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  3. Não posso deixar de mencionar seu Hortêncio que me "achou" no Shopping. Muito atenciosamente, convidou-me para ir à sua casa para mostrar a sua biblioteca de pintura e me ensinou muito, com extrema generosidade, sobre a tecnologia dos materiais. Ele tinha feito workshops com Leffel e Daniel Greene e assistíamos aos vídeos também. Foi muito proveitoso e fiquei fissurado por toda aquela informação a que tive acesso. Foram momentos como esse também que me ajudaram a acreditar que era isso que eu queria.

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  4. Sr Takiguthi.
    Estou conhecendo seu bog hoje, e ao ler este relato desta experiencia, me identifiquei muito com o que penso sobre a arte hoje em dia, está tudo muito banal,e há muitos equívocos. As vezes penso que isso tudo se tornou uma grande desculpa para os que não tem o talento ou não querem sofrer o verdadeiro aprendizado da arte
    Seu trabalho é exepcional, estou até hoje tentando chegar perto no que o sr. já alcançou.
    Na verdade sou um pintor frustado, já enho 41 anos e na minha juventude, tive que escolher a obrigação à realização. Estou tentando voltar a pintar, mas sinto um tempo enorme perdido pelofato de não querer que minha pintura se torne um hobby, queria transformar isto minha vida.
    Gostaria de saber se posso mostrar-lhe alguns de meus trabalhos, para uma avaliação sincera sobre meu conhecimento atual.
    Doa o que doer...
    Um forte abraço!
    Cássio

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  5. Oi Cássio, pode enviar os seus trabalhos para o meu email (contato@takiguthi.art.br).
    Abs.

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