Estrutura montada em pastel preto, branco e cinzas, 2013.
Influenciado, talvez, pelo episódio que Rodin viveu
ao retratar Victor Hugo na modelagem (http://mauriciotakiguthi.blogspot.com.br/2009/01/ao-fazer-o-desenho-deste-busto-de.html), resolvi entrar, por curiosidade, numa situação análoga, montando a estrutura do
desenho e das massas, fazendo um retrato de uma figura em movimento (sem o
acabamento), por meio de registros sempre provisórios das informações visuais.
Escolhi para esse experimento um aluno bem irrequieto, chamado Misael...
A primeira estratégia foi fazer o gestual para
atingir o todo, definindo a direção.
O segundo passo consistiu em fazer anotações das
proporções, ajustadas constantemente por sobreposição (portanto, não
pré-definidas), tanto da estrutura do desenho como das massas. Foram marcadas
momento a momento, gradativamente, baseadas exclusivamente numa abordagem
intuitiva – e não na medição.
Procurei trabalhar o tempo por sensação, evitando
aquelas tendências mais comuns: fixar alguma referência quando ele se
encontrava na pose que marcara previamente como primeira camada e, também,
buscar os traços mais característicos para garantir o êxito, representado pela
semelhança fisionômica.
A solução que foi se configurando durante o processo
foi a visualização de “shapes” (abstração das formas tridimensionais baseadas
nos planos ou volumes da cabeça traduzidas para formas bidimensionais) e
acompanhar seu movimento no espaço tridimensional. Gravava mentalmente por
sensação o shape em perspectiva e anotava no papel.
Representar a incidência da luz foi outro grande
empecilho. A iluminação, difusa e oriunda de cima, aliada à movimentação
contínua do nosso modelo, fez com que ficasse bem difícil compreender o
comportamento dos planos da cabeça na penumbra em relação à luz.
Sinceramente, achava no meu íntimo que não
conseguiria implementar tal tarefa. Contudo, muito mais importante que provar
para mim mesmo que conseguiria ou não foi guiar-me pela curiosidade de ir mais
a fundo no desvendamento de uma nova possibilidade, no
âmbito da concepção visual.
Essa experiência tornou-se extremamente gratificante
por desembocar num novo tipo de conhecimento voltado para a prática. Fez-me
entender ainda mais a importância do exercício mental de abstração
(decodificação), acompanhando visualmente a mudança de perspectiva do shape o
tempo todo, e da memória visual , crucial para executar os registros no papel.
Pela sequência das imagens é possível constatar o tamanho da “encrenca”: o tempo todo o modelo não “cooperava” (brincadeira, Misael!), mexendo o eixo, a rotação, o nível (em termos de altura) da cabeça, que teve também por sua vez consequências nas marcações das massas.
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