Iniciamos, no ateliê, a
primeira sessão do ano de exercício gestual, a partir da concepção pictórica,
baseado no registro do movimento dos espaços, por meio do uso de linhas. Tem
por intuito abrir a mente do aluno para outra possibilidade de construção mais
intuitiva, que alia liberdade à precisão.
A escolha preferencial pelo recurso
oferecido pela linha, em detrimento da massa, se deve à sua simplicidade e
qualidade de concisão. Mas o que facilita de um lado, dificulta do outro, pela
necessidade de resistir à tentação de desembocar no contorno externo das formas,
as quais usualmente têm por função dar nome às partes (nariz, boca, olhos,
etc).
Mas ao vencer esta dificuldade,
abre-se espaço para outra possibilidade: de apreender e captar o movimento da
imagem pela sensação. O mais difícil muitas vezes, no ateliê, é compreender que
o gestual livre e solto não nasce da linha solta ou rápida (que pode coincidir
com “cacoete”). Tampouco surge de qualquer tipo de cálculo, medição ou esquema prévio
que “garante” ou antecipa o resultado, muitas vezes espontâneo mas mecânico.
Aceitar que as formas e
proporções simplesmente acontecem e se configuram pelo cruzamento das asserções
por sobreposição é compreender a que essência do gestual pictórico emerge da
mente desprendida, comprometida com as incertezas do
processo tornado imprevisível. Somente neste estado mais flexível e aberto que a conexão com o que se faz ganha sentido. E o movimento passa, de fato, a ser um campo extraordinário para a exploração sensível.
Este desenho tem a
dificuldade extra de remeter à fisionomia do animal, o que leva tendencial e
forçosamente à descrição das formas. O grande desafio, como em todo gestual, é conseguir manter-se no
todo, tomar decisões em movimento, sem pensar. Quanto maior a negação do cálculo e do pensamento, maior o fluxo intuitivo.
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