
Dedico este blog à memória de minha mãe que nos deixou em março deste ano.
Este é o discurso de despedida que escrevi para a sua missa de 49º dia. Segundo a crença japonesa é o último dia em que o falecido permanece com seus familiares:
"Mãe, você já se foi há 46 dias e ainda sim parece, de vez em quando, surreal. Nessa fase em que passou no hospital, o tempo parou, o ar ficou estagnado, como se todas as coisas estivessem suspensas. Quebrou o movimento natural das coisas, como se a terra parasse de girar para que déssemos todo o nosso foco, energia e atenção a você num momento tão delicado.
Justo você, que nunca pediu nada para nós e não fazia a menor questão de dar trabalho aos outros. É que, generosa como é, você quis nos preparar para a sua partida, nos mobilizando durante quase três semanas, fazendo-nos amadurecer e elaborar em nossas mentes que talvez não permanecesse mais com a gente.
Estou começando a me acostumar com essa idéia, para dizer a verdade, estou começando a aceitar essa idéia, que também não é idéia, é fato. Mas também não é fato, pois permanece com a gente na forma de memória, valor, caráter, disposição diante da vida. A nossa maior herança é a constituição mental e espiritual que herdamos de você e que, com certeza, vai nos acompanhar até o fim dos nossos dias.
A nossa vida sempre é feita de etapas e agora a etapa é a vida sem a dona Cleide. Não perdemos somente o amor, a companhia e a serenidade mas também o seu aval e a sabedoria. O mundo se torna agora mais pesado e menos seguro sem você. Apesar de ficar quieta no seu canto, costurando, assistindo tv, montando seu quebra-cabeça, sua presença discreta era muito forte, fazia a casa ficar 'cheia'.
Com sua saída de cena, você nos deixa sozinhos com a tarefa de cuidar de nós mesmos e um do outro.
Se hoje é o dia de despedida, o que quero dizer a você, mãe, em nome do pai, da Cíntia, Marcos, Gui e Natália, é até logo e que te amamos muito."