segunda-feira, 3 de março de 2014

Aqueles dias...

Há dias em que me arrependo de ter saído de casa, ou melhor, ter ido para o ateliê. Tudo o que toco com o pincel transforma-se num "desastre visual”. Procurando a causa, percebo o excesso de intenção, pressa e pretensão de querer que tudo aconteça como planejado, ansiedade de concretizar descobertas valiosas em torno do processo. Depois de um tempo refletindo, consigo visualizar como perco a sensibilidade e o bom senso. E isso recai, mais uma vez, na lembrança de retomar a humildade: de reverenciar a prática do ofício escolhido pelo compromisso sincero de esquecer-se de si mesmo. Para marcar essa falta de postura e disciplina, resolvi fazer um desenho do mestre Korehira Watanabe (sword maker) para funcionar permanentemente no meu ateliê como uma espécie de lembrete visual.
http://www.youtube.com/watch?v=PSZKGzGqOt0


Pastel preto, branco e cinzas, 2014.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Exercício de "linha exploratória"

Um dos exercícios constitutivos da prática do gestual é o uso da linha orgânica que tem por objetivo explorar os espaços inomináveis, negando as linhas que descrevem a forma tridimensional, como olho, nariz, boca, orelha, etc. Em geral, a linha tem maior afinidade com o lado esquerdo e racional por servir de contorno externo aos objetos e assim, de certa forma, "atribuir-lhes nomes".
Explorar e “navegar” pelos espaços bidimensionais constitui uma tarefa árdua porque, ao negar o contorno associado ao objeto, exige necessariamente o desprendimento mental do significado, da intenção e do resultado.
Este exercício torna-se bem dificultoso justamente por explorar visualmente espaços bidimensionais e simultaneamente dissociar a linha daquilo que tem nome e que remete ao objeto sólido tridimensional.



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Gestual de 30'

Uma das formas mais eficientes de treinar o olhar, com o objetivo de visualizar e sintetizar o essencial, é elaborar de tal forma a abordagem que, com poucas asserções, as várias estruturas sejam resolvidas num prazo relativamente curto. A estratégia é aproveitar o papel como tom médio sobre o qual são estabelecidos os contrapontos claros e escuros. Neste tipo de construção, a relação entre massa e hachura é invertida. A hachura tem um papel muito mais importante por conta de sua atribuição de ajustar o valor, sugerir planos e transmitir a sensação de luz. A massa, em contrapartida, tem seu papel reduzido (para não despender muito tempo com o estabelecimento dos grandes planos) à função de dar unidade mínima para os tons baixos.
 
Carvão e lápis pastel branco sobre papel Marrakech, 2014, 33x25.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Etapas do estudo para "Ensimesmado V" definitivo

Resolvi refazer o estudo para Ensimesmado V, por acreditar que a primeira versão (http://mauriciotakiguthi.blogspot.com.br/2011/11/estudo-para-ensimesmado-v.html) tenha funcionado bem como estudo, mas sem a mesma força como obra.
 
 





terça-feira, 7 de janeiro de 2014

"Leão": etapas do processo

 Primeira foto - 1'36": Enquadramento da figura no papel e colocação do todo das grandes massas
 
Segunda foto - 8' 36": Continuação com as grandes massas e alternância com a estrutura do desenho 
 
Terceira foto - 19': sobreposição das massas menores com preocupação de manter a coerência no todo de valor
 
 Quarta foto - 34'33": textura pelo trabalho de borda e hachuras com atenção voltada para a luz
 
Revisão final (sem marcação de tempo): peguei outro dia para fazer verificação da estrutura do desenho e percebi que os olhos estavam com a direção do eixo errada. Posteriormente, retrabalhei a manipulação da luz, da borda e da leitura.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Estudo de estrutura das massas a partir da obra de Carolus Duran

Pesquisando na internet sobre os pintores pictóricos, cheguei a um retrato executado por Carolus Duran, mestre responsável pela formação inovadora de vários pintores na segunda metade do século XIX, entre eles John Singer Sargent. Influenciado inicialmente por Courbet e Manet, sofreu mais tarde forte impacto de pintores barrocos como Van Dyck e Velásquez.
O que me chamou atenção na obra "Portrait of Hanoteau" foi a soltura com que trabalhou a sobreposição das grandes massas, de uma forma radicalmente diferente do sistema indireto acadêmico.
Neste caso específico, resolvi parar um pouco além da estrutura mas sem avançar no acabamento, pois o intuito foi compreender a interação de camadas em termos de pastosidade, família de cor e temperatura, sob a lógica de construção "molhado sobre molhado" ("wet into wet").
 
Estudo feito a partir do "Retrato de Hanoteau", OST, 2013

domingo, 29 de dezembro de 2013

Análise conceitual técnica

O exemplo contrário à busca do mero efeito visual (comentado no post anterior: http://mauriciotakiguthi.blogspot.com.br/2013/12/revisao.html) ou da imitação literal do modelo é atuação na pintura guiada por um conceito chave. Num post do Facebook sobre a pintura "Convalescent", obra do pintor francês Edgar Degas (1834-1917), abordei as características dos elementos visuais e técnicos intrínsecos que serviriam como referência de ação, num nível muito alto de abstração. Nela, Degas elimina os detalhes, as variações desnecessárias de cor e de valor com o intuito de agrupá-los nestas grandes massas em prol da leitura do todo.

Parte de uma paleta reduzida de cores de acordo com os grandes "shapes" (tradução simplificada da forma tridimensional do real em forma bidimensional) de valor: que vai do terra ao terra avermelhado para os tons escuros (do positivo representado pela blusa e outros objetos escuros elusivos), cinza esverdeados para o tons médios (negativo acima da moça) e cinzas arroxeados para os claros, quase brancos (para o negativo e positivo representado pelo vestido). A curiosidade fica por conta do rosto, que tem a função visual e conceitual de interligar estas famílias de cor e temperaturas. As mesmas cores que compõem as famílias também são usadas, de modo sucinto, para compor a oposição de temperatura.
 
 
Com base na concepção visual de Degas, decidi pela mesma lógica de construção ao montar esta estrutura das massas, agrupando os grandes shapes de valor pela eliminação das variações desnecessárias. Como o mestre francês, procurei estabelecer um contraponto mais contrastante do escuro do cabelo e da roupa aos valores claros do rosto.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Textura pictórica

Um dos objetos de investigação que mais tem me intrigado ultimamente no desenho gestual é a questão conceitual de quanto é possível protelar o fim e manter-se no processo (meio), sem desembocar na colocação de detalhes ou cair na tentação de reproduzir tudo o que se vê. Estudar e compreender a essência visual sob a lógica pictórica implica criar textura, por exemplo, pela manipulação da imagem descolada do seu objeto. E é isso que resolvi fazer com este desenho de  réptil (não sei se é crocodilo ou jacaré), a exemplo, do que fiz em outros momentos com os gestuais de árvores (http://mauriciotakiguthi.blogspot.com.br/2013/11/sou-uma-arvore-e-o-tempo-e-inverno.html)  e de aves ( http://mauriciotakiguthi.blogspot.com.br/2012/11/desafio-do-feriado.html).


Anteriormente, fiz duas versões mais sucintas, uma em grafite e outra, com caneta.