quinta-feira, 8 de abril de 2010

Modelo vivo de março

Depois do workshop com Silverman, passei a mudar de postura em relação à pintura e ao desenho. Venho praticando o controle do desenho em "movimento". Embora seja muito importante a decomposição do processo em etapas simplificadas como meio para atingir o domínio, atualmente, tento não separar o processo em etapas estanques e sequenciais (como estruturas do desenho, massa, valor e borda), durante o processo prático. As múltiplas dimensões do real vão sendo administradas e organizadas pela alternância de estruturas, com base na sensação do todo.
A tendência inicial é o aparecimento de um certo desequilíbrio ou deixar algum aspecto de lado (no caso deste desenho, deixei de colocar as grandes massas na região do abdômen, para me preocupar com o trabalho de borda na sombra). O interessante dessa perspectiva é que o processo se torna um jogo mental nas palavras de Leffel, um processo de ordenamento constante, com tomadas de decisões pela interação sensível com o modelo.


carvão e lápis carvão sobre papel kraft

segunda-feira, 5 de abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

Sistema escultural e topografia

óleo sobre papel, pigmentos: sombra queimada, preto e branco.


Este estudo rápido a óleo sobre papel mostra o sistema escultural que tem como base conceitual e técnica a sobreposição opaca sem retoque. Consiste na elaboração da base pelos grandes planos e sobreposição posterior de planos menores.O treino demanda a busca dos valores corretos, misturando os pigmentos na paleta. Isso significa que se desdobra a escala tonal antes de ser colocada na tela. A primeira coisa a se ter em mente é o valor. Ao colocar a primeira pincelada, é necessário verificar se o valor está correto. Se assim estiver, pode-se avançar com o segundo elemento técnico, como borda, cor, pastosidade, etc. Por outro lado, se estiver errado, corrige-se o valor na paleta. Neste primeiro momento, para forçar o domínio e senso de colocação das pinceladas, é bom evitar a mistura dos pigmentos na tela ou da transição das massas (pelo esfumato). Essa abordagem é interessante por tornar o processo mais mental, técnico, e não apenas mecânico.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Gestual e desenhos definitivos





Gestual feito em 5 minutos, grafite sobre papel sulfite





Sobre o esboço, resolvi ir bem mais longe no tratamento do desenho para gerar a textura do animal. Apesar de um pouco excessivo o acabamento, foi bom o exercício para experimentar as várias possibilidades técnicas (como alternar a inclinação do lápis, uso de movimento circular, mudança sobre a pressão, hachuras, esfumato, etc) para variar o trabalho de borda, pelo sistema de sobreposição de massa, mantendo a coerência da escala tonal.






Desenho definitivo, grafite sobre papel sulfite






Outro desenho definitivo, grafite sobre papel

segunda-feira, 22 de março de 2010

Segunda versão acabada

Resolvi fazer uma segunda versão (do post anterior sobre gestuais) equivalente à quarta camada

Quarta parte: sobreposição de massas abrangentes, pequenas variações tonais e accents

segunda-feira, 8 de março de 2010

Gestual (Fevereiro)

Depois de anos treinando desenhos gestuais durante as sessões de modelo vivo, resolvi instituir no ateliê, como parte intergrante do curso, o exercício com esboços rápidos que visam captar o movimento da figura (e não a forma da figura com ação, como é usual). Em outros termos, registrar intuitivamente através da sensação o gesto, a ação, do modelo. São duas as vantagens, acredito, dessa abordagem: ter acesso à compreensão do desenho, no mais alto nível de complexidade, como sistema de relações de espaço e desenvolver uma mente mais flexível.


A ideia de usar um DVD como fonte de imagens (de vida animal, no nosso caso) foi inspirada no livro de Glenn Fabry (Muscles in motion). Vários anos atrás, Fabry resolveu criar um livro de referências anatômicas e de movimento porque não existia e, para resolver esse problema, passou a usar um aparelho de videocassete tomando basicamente como modelos fisiculturistas e praticantes de aeróbica. A preocupação com o exercício no ateliê não foi copiar o método exato de Glenn Fabry, mas aplicar um outro no qual se pudesse atingir e direcionar a fluência intuitiva. Outros livros que ajudaram a orientar o processo como referência foram: Desenho, de Sarah Simblet; Natural way to draw, de Kimon Nicolaides e Noah's Ark, de Rien Poorvliet.
O mais intrigante a partir dessas experimentações foi que padrões mentais de comportamento e padrões de execução, por parte dos alunos, foram tornando-se cada vez mais claros (mais tarde, pretendo fazer levantamento das principais características pelos estudos de casos). O gestual representa o desenho mais solto (que conheço pelo menos) por elaborar as informações com base na sensação e, portanto, o mais difícil de verbalizar. Ser capaz de explicá-lo e sistematizá-lo não implica torná-lo mecânico ou deduzir uma fórmula mágica, mas poder explorar com mais propriedade as suas potencialidades.
O exercício consistiu em 3 etapas: busca do movimento pelo todo, decomposição das partes genéricas e colocação do específico. Um dos aspectos mais importantes foi tentar não deduzir estereótipos (simbólicos) oriundos do lado racional e nem esquematizar a partir de bonecos.

Primeira arte: gestual que visa o todo


Segunda parte: decomposição das partes

Terceira parte: encaixe do específico, sem detalhe minucioso

quinta-feira, 4 de março de 2010

Modelo vivo de março

carvão, lápis carvão em papel marrakech, 1h

Talvez o aspecto mais importante neste desenho foi o retoque dado na estrutura do desenho depois de pronto. A proporção na região do tronco e do braço tinha ficado muito grande pelo fato de ter buscado mais o fluxo de luz. A necessidade de focar algum conceito combinada à falta de domínio de outras variáveis técnicas, dentro de um prazo relativamente curto, nos obriga a tomar decisões rápidas e, por conta dessas escolhas, algo se perde. Em geral, tenho tido o costume de analisar e guardar os desenhos contendo erros como uma espécie de arquivo. Diferentemente do usual, resolvi mudar a abordagem. No dia seguinte, lembrei-me de algo importante dito por Silverman, durante o workshop, que se pode arrumar a pintura ou desenho independentemente de o modelo estar presente ou não. O que ratificou a decisão foi a afirmação, de Kinstler e de Schmid, segundo a qual um trabalho só termina quando tem a aparência que queremos que ele ele tenha. Resolvi consertar e acho que o resultado ficou mais satisfatório.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Desenho de feriado

Lápis grafite em papel sulfite A4

Este desenho é um esboço rápido que fiz do meu cunhado, em mais ou menos 20 minutos, durante o feriado de carnaval . O que me chamou atenção num primeiro momento foi o movimento das massas e o efeito de luz na sua "pequena" barriga de cerveja, mas, no final, o que mais gostei foi ter captado a pose relaxada e desconstraída neste pedido bastante improvisado.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entrevista com Luciano Trigo

Uma boa dica de leitura para entender o caos instalado dentro da arte é o livro A grande feira - uma reação ao vale-tudo na arte, de Luciano Trigo. Abaixo, o vídeo com a entrevista concedida por ele ao programa Almanaque, no qual trata de alguns temas do livro.

Outras livros que ajudam a entender melhor o sistema artístico pós-moderno e sua lógica do ponto de vista teórico são: Desconstruir Duchamp e O enigma vazio, ambos de Affonso Romano de Sant'Anna.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Carvão, lápis carvão e branco sobre papel marrakech, cerca de 25'

Algo que venho buscando ultimamente é a representação cada vez mais rápida, simples, direta e econômica pelo sistema gráfico, com o objetivo de substituir as funções da massa. Gostei particularmente deste desenho, feito como demonstração em uma aula, por ter atingido essas qualidades.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sessões de modelo vivo (Agosto de 2009)

De volta ao Brasil, o grande desafio imposto pelo novo aprendizado com o workshop de Silverman foi (e continua a ser) treinar e manter a abordagem pelo sistema de fora para dentro, mais orientado agora pela sensação, no desenho. Algo bem curioso dito por ele, durante a sessão de retrato, é que essa concepção tende a ser mais expressiva que o sistema de dentro para fora, ou, em outros termos, o genérico permite que o artista apareça mais que no trabalho que se guia pelo específico. A diferença mais marcante, na minha opinião, entre o método de Silverman e o acadêmico é que o primeiro tem um caráter mais livre e intuitivo: não há esquema de medição para encontrar as proporções (não ancora os tamanhos das partes no número de cabeças), não se recorre ao uso de linha externa angulada, eixos e a massa desempenha papel fundamental na estruturação do desenho. A grande mudança na minha execução se deu pelo fato de, em nenhum momento, procurar fixar e usar alguma parte correta da figura como referência de tamanho para atingir, posteriormente, o todo pela abertura de relações. A vantagem é a enorme flexibilidade com que se consegue ir e voltar no desenho durante a execução. A desvantagem é não ter garantia alguma sobre o resultado, por não saber, ao certo, onde se vai "chegar".

Carvão, lápis carvão sobre papel marrakech


lápis grafite sobre papel Strathmore, 20'


Lápis grafite sobre papel Strathmore, 20'


lápis grafite sobre papel Strathmore, 20'


lápis carvão e carvão sobre papel kraft, 20'


Estes desenhos em geral de 20 minutos tiveram como característica o enfoque na proporção, gesto, certa distribuição e organização mais genérica das massas, pela eliminação do excesso de trabalho de borda.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Workshop com Burton Silverman

A experiência mais marcante deste ano foi, sem sombra de dúvidas, o workshop que fiz com Burton Silverman (http://www.burtonsilverman.com/) em Julho, um dos maiores pintores realistas americanos da atualidade.
Antes de viajar, sentia-me realmente esgotado, muito desanimado com a arte no Brasil. Queira ou não, o contexto influencia e limita o desenvolvimento individual, por vários fatores: grande resistência, encontrada no mercado e em instituições artísticas importantes, de reconhecer o valor da arte figurativa tradicional; mentalidade supostamente de vanguarda que cultiva a falta de conhecimento técnico e de desenho como base do fazer artístico; dificuldade de encontrar grandes referências que sirvam de modelo de uma arte mais elaborada e profunda; entre outros.

O que consigo visualizar depois de 23 anos de pintura é que aqui, infelizmente, o “teto” é baixo. Para crescer, é fundamental buscar novos ares. Sinto que, se não o fizesse, seria engolido por essas forças irresistíveis e invisíveis da alienação, acomodação, mediocridade e mesmice (o mais fácil seria desistir e entrar no “esquema”). É, de fato, muito cansativo e desgastante perder tempo justificando ou defendendo a validade da pintura realista, como tentei há alguns anos, através de exposições do movimento realista.


Estúdio de Silverman, Stormville, NY

Conhecer Silverman e seu trabalho de perto foi uma honra e a experiência, fantástica. Interessante constatar como, por trás do mestre, há sempre um grande ser humano, generoso, inteligente e sensível. A convivência com um mestre é imprescindível, mesmo que por pouco tempo. É incrível presenciar sua postura diante do processo: grande capacidade de, ao desenhar ou pintar, abrir mão da segurança, do lugar fácil e cômodo das receitas e fórmulas durante a execução. Ver in loco como administra o caos, como pinta, sem esboço linear, esculpindo pela sobreposição de massas (áreas de cor ou valor), revelou quão destemido e arrojado pode ser um artista.

Direto e sucinto, sua atitude de mestre é a de sempre buscar o essencial, através da observação seletiva, sem malabarismos pirotécnicos. Algo que me chamou a atenção é a liberdade e domínio com que se “move” dentro da pintura. E isso realmente estremeceu as bases de como vejo as coisas e as diretrizes de como eu penso o processo.

Silverman fazendo demonstração de um retrato a óleo

Durante o workshop em Stormville, levei vários “puxões de orelha”, que, longe de serem críticas de cunho narcisista (do tipo que desvaloriza o outro para se sentir melhor), foram, na verdade, atos de generosidade, próprios àqueles indivíduos que se orientam pelo rigor da excelência. Sem perder a compostura, nunca fez questão alguma de agradar. Falava o que pensava e o que via.

Pude constatar, de certa forma, como é possível aliar visão em profundidade, domínio do pensamento, liberdade, sensibilidade e destreza. Foi marcante comprovar que algo deste nível existe e isso me fez sentir renovado no compromisso com o que eu faço.


Sessão de desenho: retrato


Primeiro desenho a carvão


Segundo desenho a carvão


Primeira pintura a óleo


Segunda pintura a óleo


Desenho a carvão feito a partir de uma foto tirada durante o workshop

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Bernini - Portrait of a Gentleman

Neste exercício, procurei trabalhar numa mesma fase a estrutura dos espaços, das massas (pelo sistema gráfico) e dos valores através da alternância, o que exige uma boa dose de organização mental da imagem por camadas. A explicação para o uso da alternância consiste no fato de que a percepção é incapaz de lidar ao mesmo tempo com determinados tipos de informação (no caso, certas variáveis técnicas que exigem foco diferente). A metáfora que melhor explica essa abordagem é ação do equilibrista de pratos: por não conseguir equilibrá-los todos a uma só vez, deve ser capaz de manipulá-los pela intercalação de acordo com a necessidade. Esta é a razão fundamental pela qual se deve dominar cada estrutura pelo treino repetitivo.



Carvão e lápis carvão sobre papel marrakech, 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bernini - Retrato do Cardinal Scipione Borghese

Na falta de peças de gesso ou estátuas para estudar desenho, os livros de escultura podem suprir relativamente bem essa falta.




Lápis carvão, carvão e lápis pastel branco sobre papel marrakech, 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Exposição na Livraria Cultura do Conjunto Nacional

Endereço: Avenida Paulista, 2073. Do dia 1 a 20 de Dezembro de 2009.

Segunda a Sábado, das 9 às 22h; Domingos e Feriados, das 12 às 20h.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sistema de fora para dentro

O sistema de fora para dentro consiste na construção do desenho do todo para as partes. O lado bom desse sistema é a mobilidade, o lado não tão bom, mas desafiador, a dificuldade de articular, conectar, as partes. Parti do desenho gestual e mantive a base flexível para ajustes posteriores. Gosto de estudar os desenhos de Ramon Casas, pintor espanhol do século XIX, principalmente para analisar como trabalha a incidência e distribuição da luz. Exige uma leitura mais atenta por conter massas sutis quase chapadas.


lápis carvão sobre papel Marrakech e tinta acrílica branca

sábado, 14 de novembro de 2009

Carpeaux: Nubian Man

Carvão e lápis carvão sobre papel marrakech, 2009

Esse exercício foi feito a partir de uma das minhas peças de gesso do ateliê. Aparentemente, achei que ia ser tranquilo desenhá-la, mas para a minha surpresa acabei levando uma "surra". O problema decorreu da minha escolha, nada boa, de trabalhar pelas partes. Ao começar o esboço, dei mais ênfase às massas sutis do rosto. Quando fui para o turbante, aquelas informações da face, embora elusivas, tornaram-se "poluídas" visualmente. Tive de voltar e eliminar o excesso, dessa vez, orientado pelo todo. O mapeamento ficou mais tranquilo a partir da mudança de rumo. Demorei algumas sessões para entender o que estava acontecendo de errado. Foi uma ótima experiência porque exigiu bastante paciência da minha parte. Representou também um caso singular em que as camadas sobrepostas tornaram-se também camadas de entendimento.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sessões de Retrato 2009

Neste ano, decidimos promover no ateliê, a cada dois meses, sessões de retrato ao vivo com o intuito de por em prática o conhecimento técnico-conceitual adquirido (mapeamento da imagem, estratégias de abordagem, aplicação de critérios de seleção e ordenamento) durante o curso para os alunos do cavalete.
A experiência é muito rica porque difere muito do uso de foto como referência, na qual certos problemas encontram-se parcialmente resolvidos: a imagem impressa numa superfície bidimensional facilita a tradução, além, lógico, de o modelo não sofrer quaisquer distorções, tanto porque não se move como também por não haver variação da fonte de luz ou da luz refletida pelo ambiente. Mas talvez o aspecto mais significativo seja a exigência de outro tipo de postura: o de ser mais assertivo para administrar o caos e, concomitantemente, flexível para lidar com a relatividade do imponderável.
Aproveitei a oportunidade para treinar.
O curioso deste desenho (pastel preto, branco e cinza sobre papel cartão) é que consegui terminá-lo em 25 minutos aproximadamente, no final da aula. Não tinha a menor pretensão de finalizá-lo pelo pouco tempo disponível . Resolvi apenas montar a estrutura do desenho pelo sistema de fora para dentro (todo para as partes), sem fazer revisão, guiando-me mais pelo movimento das massas e dos planos dentro do todo.

Pastel preto, branco e cinzas sobre papel cartão (abril)

Lápis carvão preto e branco sobre papel Murillo (junho)